quinta-feira, 8 de março de 2012

Clientes de café no Ceará usam 'óculos comunitários' para ler jornais

Dono do Café Jaibaras fixa recortes de jornais em um mural.
Estabelecimento fica no Becco do Cotovelo, rua comercial de Sobral.

Elias Bruno
Do G1 CE

Café jaibaras (Foto: Elias Bruno/G1)
Óculos ficam presos a uma corrente no mural de jornais
 do café, no centro de Sobral. (Foto: Elias Bruno/G1)

Moradores da cidade de Sobral, no Norte do Ceará, podem fazer mais do que compras quando vão à rua comercial mais famosa da cidade, o Becco do Cotovelo. No Café Jaibaras, um par de óculos ''comunitário” garante a leitura de jornais aos clientes que esqueceram as lentes ou têm dificuldade em enxergar os textos dos recortes, expostos pelo dono em mural do estabelecimento. A seleção das notícias que vão para o mural segue a preferência dos leitores. “Recorto notícias interessantes, como a do aeroporto em Sobral, mas as matérias policiais ou esportivas são as mais lidas”, afirma o proprietário do café, Expedito Vasconcelos, ex-farmacêutico de 65 anos.
O comerciante Francisco Linhares Pontes, 60 anos, conhecido como “Chico Joia” diz frequentar o Café Jaibaras duas vezes por dia. “Vou lá para saber de todos os fatos que estão acontecendo na cidade e no mundo”, afirma. Na visita da manhã, o comerciante lê os jornais do mural e conta que já teve de usar os óculos comunitários “Para quem está com problema na vista, os óculos são um ótimo quebra-galho”, diz. Quando vai ao ponto de encontro à tarde, Chico Joia toma um cafezinho e discute assuntos variados, principalmente sobre política. “É de muita a importância a existência desse espaço em nosso município”, diz.
  “Um médico já veio verificar os óculos e disse que não há problema com o grau das lentes. Todo mundo pode usar”, diz Vasconcelos, conhecido como “prefeito” do Becco. “Estou aqui há 32 anos e, como radialista e colunista, trabalho servindo à população. Tenho essa sede de informação e quero levar isso para todos”, afirma.
O ''prefeito do Becco'' começou a ser chamado assim desde a criação da Associação dos Amigos do Becco, há cerca de 15 anos. O café guarda também outras peculiaridades como o boneco de gesso “Zé Bocão”, que leva culpa por todas as fofocas comentadas pelos moradores. “Todos os boatos e rumores inventados pelas pessoas são atribuídos ao 'Zé Bocão', já que ele não tem como se defender”, diz Vasconcelos.
Café jaibaras (Foto: Elias Bruno/G1)
Dono do café, Expedito Vasconcelos recebeu
título informal de ''prefeito do Becco''
(Foto: Elias Bruno/G1)
Café jaibaras (Foto: Elias Bruno/G1)
Placa indica em o nome do corredor
comercial em inglês (Foto: Elias Bruno/G1





 
 
 
 
 
 




Para livrar um pouco a fama do boneco, o ''prefeito'' inventou outro objeto curioso: uma placa com os dizeres 'Conheça o maior fofoqueiro do beco', mas, ao retirar a placa, a pessoa se vê em um espelho. “Na primeira vez em que uma pessoa passa por isso, é uma risada só”, afirma.
Na parede do Café Jaibaras está a placa que se aproveita da fama de “americanizada” que a cidade tem e traduz o nome do corredor para 'Elbow Street'. “Da primeira vez, hesitei em colocar a placa para não lembrarmos ainda mais os Estados Unidos, mas depois, decidi seguir a linha democrática do local. Aqui pode tudo', afirma.
Outro investimento do Café é a venda de livros assinados por sobralenses e que contam a história da cidade. Ainda de acordo com Vasconcelos, o Becco do Cotovelo existe oficialmente desde 1842, após a criação de uma lei municipal.
Precaução

O oftalmologista Davi Lucena alerta que os "óculos comunitários" podem causar um desconforto momentâneo de acordo a diferença do grau de quem utiliza. "Não há nenhum prejuízo irreversível. Esses óculos podem ser mais usados por aqueles clientes com a 'visão cansada'. Neles, a leitura realmente pode melhorar", explica. De acordo com o médico, a 'visão cansada' surge após os 40 anos de idade e é comum em pessoas que nunca precisaram usar óculos.
Apesar de não causar sérios problemas, o oftalmologista afirma que os "óculos comunitários" podem ser transmissores de infecção. "A pessoa pode usar os óculos, estar com um vírus e não desenvolver a doença porque tem resistência. Se outra pessoa usar os mesmos óculos com uma baixa resistência pode ficar doente. O mais comum é a conjuntivite", diz.
O médico orienta que, sempre forem utilizados, os óculos, tanto lentes quanto armações, sejam limpos com álcool para evitar a transmissão de infecções. "Quem precisou usar os 'óculos comunitários', também não pode deixar de ir a um médico oftalmologista para realizar exames mais detalhados dos olhos", lembra.

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