que a pior a situação para um gestor público é a Zona de conforto"
As demandas geradoras da greve dos policiais militares e bombeiros que deixou o Governo do Estado de joelhos nos primeiros dias de 2012 não eram novidade para o governador Cid Gomes. Desde o início da sua primeira gestão ele tem sido cobrado em relação a essas reivindicações. Nem por isso, as tratou como devia, muito menos as encarou na devida conta potencialmente explosiva nas quais se transformaram. Não tem sido assim apenas com a área da segurança pública, mas com várias outras, como as dos professores, por exemplo, diante do visto no ano passado.
No que diz respeito à segurança pública, todavia, a primeira gestão do governador Cid Gomes passou quase incólume em virtude de alguns aspectos. O principal deles se deve ao efeito positivo do Ronda do Quarteirão, que acabou por oferecer por parte da população um certo crédito de confiança ao governo, isolando movimentos mais ousados dentro da tropa. Foi assim, por exemplo, com a exoneração do coronel Bessa, quando se colocou ao lado dos militares em suas reivindicações logo no início do governo. Reserva e ostracismo foram o que lhe restaram de prêmio.
O governador também foi bafejado pela sorte na área ao escolher como secretário o policial federal Roberto Monteiro, a quem só foi apresentado no dia da posse. De fino trato e humanista, o “gravatinha” manteve-se fiel às suas convicções legalistas, situação que o fez perder o controle da tropa e angariar a antipatia de muitos que defendiam uma polícia, menos, digamos, mais voltada aos direitos humanos. Ressalte-se que Monteiro sempre se colocou ao lado das demandas dos policiais, não tendo tido força junto ao governo, porém, para implantá-las. Nesse aspecto, Cid teve sorte porque Monteiro funcionou como espécie de escudo para o governo, já que toda a insatisfação era canalizada contra ele, deixando o governador livre das reclamações mais diretas.
Por fim, a gestão Cid também contou na Assembleia, quanto a área de segurança pública, com uma subserviência terrível. Tanto, que até os famosos deputados da mídia, eleitos com esta bandeira, a chamada “bancada da bala”, estivera mais preocupada em fazer jogo de cena em seus programas televisivos, do que abrir discussão de fundo sobre o tema. Essa sensação de conforto cegou o governador e seus pares sobre a força de uma categoria que estava no limite. E aí, quando se chega a esse ponto, basta alguém com certa competência para guiar o movimento.
Foi o que aconteceu com um desconhecido capitão Wagner, que em três meses na Assembleia vai se fazer lembrar ainda por muitos anos. Certo ou errado nos métodos, coube a ele mostrar ao governador que a pior a situação para um gestor público é a zona de conforto e os bajuladores. O silêncio imposto a Cid e o feriado extemporâneo vivenciado em Fortaleza na última terça-feira são simbólicos e deveriam servir de lição não só para esse governo, mas também
para quem ignora as vaias como sinal de alerta. É claro que ainda há muito tempo para o governador se refazer do baque, mas não há como negar, mesmo com apenas cinco dias, que 2012 não deve deixar saudades para Cid Gomes.
Luiz Henrique Campos
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