terça-feira, 16 de novembro de 2010

Novo mandato, novos desafios para Cid Gomes

Por Macário Batista - Especial


Reeleição não é, não foi e nem será, necessariamente a repetição de um governo. No caso do Ceará, mesmo que se conheçam alguns dos predicados do governador, suas falhas, defeitos e acertos, o certo é que Cid Gomes não fará o mesmo caminho que percorreu no primeiro governo. Além de não poder mais ser reeleito, e aí já começa a mudar o quadro, Cid tem outro vice, com outro perfil e um futuro que dará continuidade à sua trajetória política. Há no seu caminho o Senado ou, quem sabe, no meio do mandato até mesmo um Ministério de Dilma. Não são favas contadas, mas são perspectivas de quem está na chuva.
Dito isso, a primeira imagem é a formação do novo secretariado. Para alguns, já nasce usado. Não chega a ser velho, mas usado. Casa Civil, Chefia de Gabinete, Fazenda e alguma outra pequena variação na Saúde. Neste caso Ivo Gomes, o irmão deputado estadual, seria o homem da Saúde, eis que é tido como um gestor de primeira, linha dura e cobrador. Mauro Filho, Arialdo Pinho nem precisariam terno novo para a posse. Ambos ficariam onde estiveram até bem pouco. Mauro saiu para candidatar-se à reeleição e o outro para ficar à frente da coordenadoria da campanha de Cid e já voltou.
O Governo Cid, porém, não terá a mesma cara na Segurança Pública. Insistindo com o Ronda parece igual, mas o nome no comando será outro com um outro perfil. A “finesse” de Roberto Monteiro e seus entendimentos de alemão e sueco poderão dar lugar a alguém que fale “cearês” e, de resto se faça entender pela bandidagem quando alguém diz “teje preso”. As mudanças da Segurança passarão, necessariamente, por algo mais energético na Polícia Civil, na PM e no Ronda, com destaque para companhias interioranas onde crescem os assaltos e o consumo de drogas e onde o povo pacato tem sofrido com filhos no vício pago com a prisão de cartões do Bolsa.
Há apostas em cargo mais poderoso para Fátima Catunda, discreta e competente secretária do Trabalho e Ação Social, que jamais reclamou ter passado quase todo o governo na interinidade (no papel), mas com ações conhecidas pela titularidade e segurança no lugar. Com a saída de Artur Bruno, Catunda, uma espécie de trunfo na manga dos FGs, assumiu a pasta e jogou-se ao trabalho. Não podia ser titular porque isso implicaria em que Cid Gomes arrumasse outra pasta para o PT, de onde Artur Bruno, hoje deputado federal eleito, foi para o governo na cota partidária.
Quem mais?
Fica no governo quem se manteve afinado e mostrado serviço. Peças serão trocadas por essa mesma razão, ao contrário. E tem as arrumações políticas. O PMDB, que nem rejeita cargos nem jamais se dá por satisfeito com os que tem, quer lugares, além da Secretaria de Recursos Hídricos, onde Eunício Oliveira plantou seu antigo colaborador, César Pinheiro. Além de Eunício, fortalecido com o Senado, o PMDB tem o vice-governador Domingos Filho, discreto durante toda a campanha e até antes do “meeting”, quando funcionou como cupido nos desamores de políticos com o Governo Cid.
Tanto fez Dominguinhos que caiu nas graças de Cid. Causou dificuldades pra compor o quadro majoritário, mas foi de extrema habilidade no frigir dos ovos e de sua pretensão. Aliás, pretensão negada com maestria quando, ano e meio antes da campanha em si, comentei suas mexidas no tabuleiro, fazendo um xadrez de mestre para viabilizar seu próprio nome e, com isso, entrar no jogo da sucessão mais interessante; o vice-governador poderá ser governador por um bom período, desde que Cid saia para ser candidato a alguma coisa e, assim, botar seu próprio nome à sucessão, ou, se for o caso, à sua própria reeleição. Dominguinhos, de quebra, mostrou o peso que em ao eleger o filho Domingos Neto mais novo e mais votado deputado federal do Ceará.
Tem um moço que dificilmente ficará de fora do primeiro escalão do Governo Cid. O secretário da Agricultura, Camilo Santana, não só é da grade do governador, como tem futuro político de tal monta que não será deixado num chuvisco qualquer. Tanto poderá continuar onde está como ir para uma montra de maior evidência. A seu favor a discrição, amizade pessoal, admiração e uma gestão que pouco deixou a desejar na missão que recebeu. Uma seca não é culpa dele, já as ações pra minimizar seus efeitos têm sido de sua competência.
Também se crê como muito difícil uma mudança de posto do secretário de Infraestrutura, Adahil Fontenele. É nome não só da cota pessoal da família, incluindo aí o desempregado Ciro Gomes, de quem Adahil tem a mais irrestrita confiança, uma segurança que foi transferida para Cid, testada e aprovada quando Fontenele foi diretor Geral da Assembléia Legislativa. Adahil não manobra ou sequer se insinua, porque quem tem juízo não o vê fora do primeiro time do novo Governo do Ceará. São, a priori, os pesos pesados do governo, aqueles com quem o governador poderá contar pra qualquer missão.
Últimas e primeiras horas
Aí chega a hora de a onça beber água. Só se falou aqui no pessoal de casa, mas todos sabem que tem os aliados de última e das primeiras horas. O PT não vai ficar submetido apenas ao que tem. O PT quer mais como coadjuvante. Resta saber se com as escaramuças da prefeita Luizianne Lins pra cima de Ivo Gomes, vai ter o que quer, pretende ou que pensa merecer. Cid deixou com Luizianne e para não complicar a escolha do vice, que os dois primeiros suplentes na chapa majoritária, ficasse para Wladimir Catanho, segundo de Eunício Oliveira e Sérgio Novais, segundo de José Pimentel. Se o PT der a sorte de ter Eunício e Pimentel ministros... bom, aí o PT não precisará de mais nada no Governo.
Os partidos menores, aqueles que não ficarem com secretarias importantes como Infraestrutura, Educação, Saúde, Casa Civil e Segurança, vão morgar num escalão próximo. A Secretaria das Cidades, como exemplo, cota-se como fora do mando petista, podendo ir até para a coligação que juntou PP e PTB e que, igualmente, juntaram milhares de votos para a eleição dos majoritários Cid, Eunício e Pimentel. Os demais aliados, aqueles que contribuíram com tempo de rádio e televisão, seriam aquinhoados mais abaixo. Quem diz que não pressiona, conchava baixinho. O PCdoB quer continuar com a Saúde. O PMDB pretende crescer além dos Recursos Hídricos e Controladoria. O PT... bem, o PT acha-se enquanto a turma da menor coligação, PHS, PSL, PTdoB, PTN, PV, PMN e PRB, também quer a parte que diz caber a si no latifúndio do Abolição.
A palavra final, em tudo isso, pra quem conhece Cid Gomes, será a dele. Não empurrem nem forcem a fila ou verão a porta se lhes fechar à cara.


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