quarta-feira, 31 de março de 2010

Caso Irmã Dorothy

Declarações de dois condenados pela morte da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang em 2005 indicam que a principal prova a favor do acusado de ser o mandante do assassinato --o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida-- foi feita sob ameaça de violência e ao custo de R$ 300 mil.

Hoje, Bida volta ao júri, em Belém (PA), para ser julgado pela suspeita de ser o mandante do crime. Em seu segundo julgamento, em maio de 2008, ele foi absolvido, o que chocou grupos de defesa dos direitos humanos e ambientalistas.
À época, o fato decisivo para que ele fosse considerado inocente foi a exibição de um vídeo no qual Amair Feijoli da Cunha, o Tato, já condenado pelo crime, dizia que o fazendeiro nada teve a ver com o assassinato de Stang, em 2005, com seis tiros, em Anapu (PA).
Para tentar desmontar a tese sustentada na gravação, que contradizia o que Tato havia dito até então e pode de novo ser um ponto central da defesa, a Promotoria deve usar hoje apenas uma das declarações, as quais a Folha teve acesso.
Ela é uma carta, escrita à mão por Tato em junho de 2007 --oito meses após a produção do vídeo. Foi enviada ao Ministério Público Estadual.
Nela, ele afirma que vinha recebendo "muita pressão" do fazendeiro e que, se não corroborasse a versão da defesa, não iria ficar "vivo na cadeia".
Diz também que, "para ajudar" o fazendeiro, participou de "uma fita gravada com um repórter [...] que veio aqui. Eu fiz isso porque eu fiquei com medo". "A verdade é que ele [Bida] mandou o Rayfran [das Neves, outro condenado] matar a irmã Dorothy", escreveu.
A outra declaração é o depoimento de abril do ano passado dado por Clodoaldo Carlos Batista, que estava com Rayfran no momento em que este atirou em Stang. Clodoaldo cumpre 17 anos de prisão por participação na morte.
Segundo disse, a gravação que absolveu Bida "custou R$ 300 mil, sendo uma terra no valor de R$ 150 mil [no sul do Pará], dois carros [um deles no valor de R$ 30 mil] e mais uma quantia R$ 12 mil".
De acordo com Clodoaldo, todos os bens foram entregues à mulher de Tato por um funcionário de Bida. Clodoaldo afirmou também que os valores e a negociação foram relatados a ele pelo próprio Tato.
O depoimento, dado a representantes do Ministério Público, do governo do Pará e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), não será usado no julgamento de hoje, porque não foi anexado como prova a tempo.
Ao ser informado pela reportagem sobre os dois documentos, o advogado de Bida, Eduardo Imbiriba, disse que irá demonstrar, ao longo do júri, "a farsa sobre a carta", mas não detalhou em que consiste a suposta farsa.
Sobre o depoimento, disse que não o conhece e que prefere não comentar seu conteúdo.

Fonte : Folha Online

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